Mãe, promete-me que lês

Não há pessoas perfeitas, não há famílias perfeitas, não há relações perfeitas, nada  na vida é perfeito. Excepção feita, talvez, à natureza…

As ligações e relações familiares, são de uma enorme complexidade, e também, sem dúvida, determinantes no nosso percurso, nos caminhos que seguimos, nas escolhas que fazemos. Todos/as temos os nossos fantasmas, as nossas mágoas. Muitas palavras ficaram por dizer a pessoas que adorámos, tantas outras que não queríamos ter dito, e ainda outras, que dizemos em surdina, numa esperança vã de que possam ser ouvidas.

O Luís Osório, nasceu no mesmo dia que eu, sete anos depois, não nascemos na mesma década, mas em certa medida somos da mesma geração. De há muito que acompanho a sua carreira, que o admiro, assim como a sua forma de comunicar. Acho que foi mesmo isso, a sua forma de comunicar, tranquila e determinada, que me despertou interesse, há cerca de  18 anos atrás, num programa da RTP2, “Conversa Privada”, altura em que comecei a acompanhar o seu percurso. Era um excelente programa que segui fielmente. Até porque os companheiros de conversa do L. Osório, o professor e psiquiatra Daniel Sampaio, e a socióloga Ana Drago, ambos figuras por quem também sinto grande  admiração, formavam com ele um trio extraordinário, de uma enorme cumplicidade. À volta dos livros, da música, ou simplesmente das ideias, conversas sobre nada e muita coisa, que me fascinavam e me prendiam ao ecran, semana após semana.

Para além da sua carreira de jornalista, L. Osório está ligado a outras actividades profissionais, mas tem-se destacado, nos últimos tempos, especialmente como escritor. Este livro, o seu último, é uma carta aberta à sua mãe, que já partiu, onde expõe, quase sem reservas ou pudores, uma relação tumultuosa, difícil, sofrida, plena de sentimentos contraditórios mas onde o amor mãe/filho e filho/mãe são seguramente o suporte de todas as emoções.

São feitas perguntas que ficarão sem respostas, são confessados sentimentos que não serão ouvidos, é toda uma coragem e capacidade de exprimir, tão bem, diga-se, em centena e meia de páginas, e num exercício público de psicoterapia, as amarguras de uma vida.

É um livro sobre o peso dos afectos, das presenças e das ausências, sobre angústias e desilusões e sobre medos e emoções. É coragem de tocar as  feridas, é um ajuste de contas e um ato de contrição, com os que já partiram, os que ainda estão, e consigo próprio. É uma leitura inquietante, que nos prende e nos desassossega, porque seja na intimidade das relações familiares, ou dentro de nós, facilmente encontramos pontos comuns. É o grito que tantas vezes precisamos de dar. Extraordinário.

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