Passadiços da Foz do Arelho

Os passadiços da Foz do Arelho, um percurso curto, com cerca de 800 metros, tão original que até foi incluído no Atlas of World Landscape Architecture, têm como principal atrativo o seu enquadramento natural, ao longo do Atlântico e com a foz da Lagoa de Óbidos, em pano de fundo.

Percorrem-se rapidamente mas permitem-nos aproveitar inteiramente a beleza ímpar e embriagante de toda esta zona com recursos tão notáveis como a Lagos de Óbidos, a Serra de Bouro e as maravilhas da costa oceânica, que aqui tem tanto de bela como de brava.

Somos um país de claros exageros. Ainda não percebi muito bem se tanto para o bem como para o mal, o que poderia equilibrar as coisas, mas aqui refiro-me especialmente a espaços e equipamentos coletivos, construídos para o uso da população em geral. Somos um dos países com mais rotundas na Europa, fomos literalmente invadidos por elas e agora estamos no auge da época dos passadiços, que vimos proliferar de norte a sul, no mar e na serra, à beira dos rios, pelo meio de matas e florestas. O que inicialmente parecia ser uma forma muito sustentável de desfrutar da natureza, e nalguns locais será, parece ser agora uma praga, pois não há terra nem terrinha que não tenha o seu passadiço, assim como o seu baloiço. Como apreciadora de caminhadas gosto de descobrir e conhecer a natureza em volta dos locais que visitamos e se há passadiços, queremos saber como são, naturalmente.

De volta à Foz do Arelho fomos conhecer os seus passadiços, que são pequeninos, parecem ser, ambientalmente pouco invasivos e têm um enquadramento magnífico.

Foram desenhados pela arquiteta paisagista Nádia Schilling, com o objetivo de criar um caminho seguro para a contemplação e deixar o resto da área liberto para o crescimento da vegetação espontânea.

O recorte natural da encosta, ora tapa ora destapa o oceano Atlântico, consoante subimos ou descemos os pequenos lanços de escada.

Em qualquer um dos sete miradouros, com bancos giratórios (quando fizemos o percurso a parte giratória estava retirada, não percebi porquê) para obter uma vista de 360 graus, o mar está sempre presente e nos dias límpidos a vista alcança mesmo o arquipélago das Berlengas.

Com tantos atributos não posso deixar de recomendar um passeio por estes belos passadiços mas, se gostam de caminhar, recomendo que comecem o percurso junto à Lagoa, subam depois pela estrada que segue até à Serra de Bouro, iniciem os passadiços e desçam em paralelo a eles pela estrada atlântica.

Creiam que será um passeio inesquecível.

Onde ficar na Foz do Arelho

O nosso alojamento de eleição é o Hotel do Inatel.

Com um relação qualidade/preço muito equilibrada, é especialmente na época baixa que o aproveitamos. Tem ótimas instalações e umas vistas de cortar a respiração (se optarem pela vista Lagoa). Nesta matéria, não há certamente nas imediações acomodamento que lhe ganhe. Assistir a um nascer do sol da varando do quarto é absolutamente indescritível.

Onde almoçar

Nos meus artigos sobre viagens poucas vezes faço recomendações de restaurantes. Por um lado porque sendo uma profunda admiradora da gastronomia nacional, sou igualmente muito exigente, esquisita, para usar um termo popular, e acontece-me bastante, mais vezes do que gostaria, optar por determinado restaurante com base nos testemunhos de quem por lá passa e os vai deixando no TripAdvisor, Google Maps ou até em grupos próprios nas redes sociais, e sentir-me defraudada, a minha experiência em nada se assemelhar aos comentários mais elogiosos.

Por outro lado, mesmo quando gosto muito e acho bem merecedor recomendar algum local, acabo por relegar essa parte para segundo plano. Ainda que atribua um grande valor à parte gastronómica, a parte histórica, cultural e do património, o desejo de conhecer novos locais ou explorar melhor aqueles que já conheço, sobrepõem-se quase sempre. Muito mais importante do que o que comemos é o que vimos e conhecemos, o quanto me sinto mais rica com essas experiências e conhecimentos.

Todavia, já deixei aqui no blogue algumas sugestões e hoje vou sugerir um local muito especial. Um pequeno episódio, mesmo no final da nossa refeição, tornou o que seria um almoço simples, num momento especial que me fez olhar de forma diferente para aquele local onde se deslocam de propósito tantas pessoas todas semanas, ganhar por aquele lugar carinho e um sentimento de profunda admiração. Conquistou-me.

Na nossa última estadia na Foz do Arelho fomos almoçar um dos dias a um restaurante que descobri casualmente, quando procurava restaurantes que não conhecêssemos para novas experiências gastronómicas.

De entre os vários que descobri, o Solar dos Amigos, em Guisado, Salir de Matos, obteve a maior atenção, pela quantidade e valorização dos comentários.

Percebi, logo na pesquisa, ser um local muito voltado para a tauromaquia o que me deixou alguma apreensão por ser uma prática que expressamente contesto. Porém, como também contesto os fundamentalismos e a intolerância, e quero acreditar que no futuro, tal como outras práticas bárbaras do passado, esta tenderá a desaparecer ou a ganhar novos contornos, não deixei que isso fosse um impedimento e deixei abertura para acomodar tudo o que poderia apreciar.

Reservámos na véspera de manhã e já só conseguimos vaga por sermos apenas dois. É um local muito frequentado e isso percebe-se bem assim que chegamos à pequena povoação, às imediações do restaurante, onde a estrada está repleta de carros.

O Solar dos Amigos é um restaurante muito voltado para os nosso pratos típicos, como o cozido à portuguesa, as carnes grelhadas e os pratos de bacalhau. Quando olhamos para a ementa o preço das doses não parece muito acessível, mas há que salientar que recomendam uma dose para duas pessoas e nalguns casos até meia dose. É um local muito procurado por grupos, tem oito salas e a decoração predominante são os tecidos de chita, cartazes, fotos e artefactos relacionados com a tauromaquia. Cada sala é distinta da outra mas são todas muito bem compostas e acolhedoras.

O atendimento é eficiente e muito amigável. O pão vem quentinho, num talego de chita, trazem queijos, azeitonas, pataniscas e outras entradas para escolhermos. Escolhemos pataniscas de entrada e de prato principal bacalhau à casa, um bacalhau que é servido num pão.

Tinha lido maravilhas sobre este prato, que na verdade não nos deslumbrou. Pareceu-nos que teríamos ficado melhor com carne grelhada. O pão é recheado com lascas de bacalhau, couve e alguns feijões e acompanha com feijão com arroz e uma migas. O recheio não é interessante, a impressão que dá é que os ingredientes são misturados sem especial confeção e por isso torna-se algo sensaborão. Para beber pedimos cerveja e sangria de pressão, muito agradável, de sobremesa leite creme e uma mousse de maracujá. Aceitáveis, sem impressionar. No final fomos agraciados, todos os comensais o são, com um bom licor uns biscoitos, os lagartos, tudo confecionado ali. Melhor forma de terminar, impossível.

Porém, o que comemos foi o de somenos. Gostámos da experiência e do ambiente e sobretudo de termos conhecido o fundador do restaurante. No final do almoço, quando pagávamos à caixa, um senhor idoso abordou-nos, perguntou-nos se era a primeira vez ali e apresentou-se. Era o fundador do restaurante. Contou-nos que tem 91 anos e que tinha aberto aquela casa há 50. Que durante vinte anos da sua vida todos os sábado passava pela nossa terra para vender frutas da sua produção na feira de Estremoz, e que esteve outros tantos anos em Nova Iorque onde trabalhou na construção, tendo nessa altura deixado já entregue o restaurante à filha que agora o gere. Adorámos falar com ele, conhecer a sua história de vida, partilhámos da alegria contagiante com que falava daquele lugar.

Nos tempos que correm, em que nos sentimos cada vez mais enganados, defraudados, dececionados, voltar a acreditar nos outros, voltar a sentir que o melhor do mundo ainda são as pessoas, mesmo quando não as conheçamos bem e apenas seguimos a nossa intuição nos juízos que fazemos, é motivo de alegria e foi com um misto de felicidade, esperança e conforto que dali saímos.

Passem pelo Instagram do restaurante e apreciem: https://www.instagram.com/solar_dos_amigos/

2 pensamentos sobre “Passadiços da Foz do Arelho

  1. A foz do Arelho e Lagoa de Óbidos são lugares sempre apeteciveis para um passeio. Também percorri esses passadiços…mas achei-os visualmente um pouco complicados. Têm uma estética muito própria, uma função relevante, permitem boas vistas, mas creio que poderiam ser uma estrutura mais simples, mais linear e sem tantas curvas. Mas é uma opinião muito pessoal, obviamente.
    As suas bonitas fotos mostram bem as impressionantes vistas daquela área!
    Boa partilha!

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    1. Dulce quando fizemos o percurso comentámos precisamente esse aspecto, a falta de simplicidade. É que ali é tudo tão bonito que não havia necessidade de “elaborar” tanto… Mas é como diz, são opiniões, e essa parte, menos positiva, acaba por ser ofuscada pelo resto. Muito obrigada por apreciar e bom domingo!🍁

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