O Grande Palácio Real de Banguecoque – crónicas de uma viagem, Parte II

O Grande Palácio Real de Banguecoque é um grande conjunto arquitetónico formado por um grupo de edifícios que serviram como sede real do século XVIII até meados do século XX. Fica situado próximo do rio Chao Phraya, está cercado por uma muralha de quase dois quilómetros, é uma das maiores atrações e um dos principais símbolos da capital tailandesa.

O lugar mais importante do palácio é o templo Wat Phra Kaew, no qual está o Buda de Esmeralda que, talhado em jade no século XV e com apenas 45 centímetros de altura, é o mais valioso e venerado da Tailândia.

O Palácio Real de Banguecoque é tudo isto e ainda um lugar deslumbrante, de uma beleza indescritível.

O dia de visitar alguns dos principais templos de Banquecoque despertou límpido e quente, muito quente. Os templos sempre me despertaram muito interesse e curiosidade e estava particularmente animada. O Palácio Real seria o primeiro, pois o complexo é enorme e a visita a outros templos dependeria do tempo despendido ali.

À medida que nos aproximávamos do grande Palácio o movimento aumentava. Nas imediações muita agitação, muito trânsito, tuck-tucks, táxis, turistas em grandes e pequenos grupos. O ambiente fazia antever que para além de um lugar espiritual é também um local muito especial.

Apesar da grande confusão e enorme afluência, a fila na entrada escoa rapidamente. Já lá dentro, antes do acesso à bilheteira, um grupo de seguranças, homens e mulheres, controlam as entradas de forma eficaz mas absolutamente incoerente.

As regras de vestimenta para os templos, em geral, são específicas, mas no Grande Palácio Real são muito rigorosas.

As mulheres não podem mostrar os ombros, os joelhos, o decote, a barriga, tampouco podem usar leggings ou roupas transparentes. Os homens não podem mostrar os ombros e se forem de calções têm de ser compridos, tipo bermudas.

Estando devidamente informados dessas regras preparámos a nossa indumentária. As mulheres iam todas prevenidas mas tivemos de ir comprar calças de algodão aos vendedores de rua para os homens vestirem por cima dos respetivos calções, que eram curtos. Eu optei por levar um macacão de alças, comprido, levando na mochila uma écharpe grande para cobrir os ombros. Parecia-nos estarmos completamente dentro das normas. E estávamos, mas não estávamos suficientemente alertados para os truques usados para extorquir mais dinheiro aos turistas.

Mesmo à entrada do templo, a Maria e a Isabel entraram sem qualquer dificuldade, mas uma segurança impediu o Pedro e o Adriano, que estavam vestidos iguais a todos os outros homens, de calças compridas e manga curta, de entrarem. Não percebemos porquê. A mim também me barraram a entrada. O afluxo de pessoas era tanto que os homens aproveitaram o foco em mim e entraram, não sendo barrados por nenhum outro segurança. Eu não tive hipótese. Ela não me largou e começou-me a indicar o local onde se vendem roupas especificamente para o efeito. Conclusão, com uma écharpe que me cobria não só os ombros mas quase todo o corpo, fui obrigada a comprar uma t-shirt de algodão, vulgaríssima, que nas ruas vendem por 2 e 3€, paga ali por 7€ para poder entrar. Como eu, uns por falta de conhecimento ou preocupação com as regras, outros devido ao critério da segurança (ou à falta dele), estavam muitas pessoas, homens e mulheres, a comprarem t-shirts ou calças. A loja, mesmo à entrada do templo, é outra grande fonte de rendimento.

O episódio não conseguiu estragar-me o momento extraordinário que é poder visitar aquele local, mas perturbou-me. Não é boa a sensação de nos sentirmos enganados. Fui obrigada a comprar uma t-shirt que vesti por cima do macacão e não me tapava mais do que a écharpe e vi muitas mulheres menos vestidas do que eu. Mas eu era turista ocidental e eles veem cifrões em nós. Não é bonito. Para tornar a situação mais desagradável a segurança era de uma agressividade e arrogância que em nada se enquadravam com aquele lugar, que é de uma beleza ímpar.

“No budismo tailandês, a ideia de karma deu origem à ideia de fazer mérito. A ideia de fazer mérito deu origem à ideia de libertação dos pássaros. A libertação dos pássaros gera positividade que, mais tarde, regressará ao seu autor. A lógica é deturpada quando se sabe que, antes, esses pássaros eram livres. Foram capturados e presos apenas com o propósito de serem vendidos – cem bahts – e soltos.” O Caminho Imperfeito, José Luís Peixoto.

A Tailândia é conhecida ou apelidada de terra dos mil sorrisos. Não foi apenas por este episódio, mas não senti isso. Nos monumentos os/as seguranças são pouco simpáticos/as e falam com os visitante de modo pouco agradável, de modo muito autoritário. Vi muita simpatia e sorrisos, alguns naturais e espontâneos, outros iminentemente objetivos, dirigidos, o que é compreensível tendo em conta o grau de dependência do turismo, mas também pouca simpatia De resto, como em outros locais, outros países.

Se por um lado não achei que fossem o povo dos mil sorrisos, como é muitas vezes designado, e me senti enganada no Grande Palácio Real, pude comprovar, mais tarde, que sabe ser um povo atencioso, acolhedor, com muita sensibilidade e humanidade. Como a vida é um labirinto de emoções, um pequeno episódio quando caminhávamos em direção ao Wat Arun mostrou-me a outra face da moeda, apazigou-me e fez desvanecer por completo a má impressão com que fiquei no incidente no Grande Palácio Real. Num momento de mau estar devido calor sufocante aliado aos odores fortes de alguns pontos da cidade, tive uma descida de tensão arterial que me obrigou a parar e sentar no chão, à entrada do cais, local onde se junta muita gente, turistas e locais.

Assim que perceberam o meu mau estar as vendedoras do mercado junto ao cais excederam-se em atenções. Vi-me rodeada de leques que abanavam nas suas mãos para me refrescar e de fragrâncias milagrosas, que me davam a cheirar e me passavam na testa, adequadas a todas as maleitas. Vi preocupação, cuidado, atenção. As tailandesas, vendedoras de bugigangas numa daquelas confusas e apinhadas entradas de acesso aos barcos que percorrem o rio Chao Phraya, fizeram com que em minutos, tanto o mau estar físico como a má impressão anterior que de certo modo assombrou o dia, se fossem completamente.

O Grande Palácio Real

O Grande Palácio Real é um conjunto de edifícios que serviram como residência oficial do rei de Tailândia do século XVIII até ao século XX. Com a morte do rei Ananda Mahidol no Palácio de Baromphiman, o rei Bhumibol Adulyadej nomeou a residência oficial o Palácio Chitralada.

A construção do conjunto palaciano teve início em 1782, durante o reinado de Rama I. Está situado a leste do rio Chao Phraya. O complexo está protegido por um muro de 1 900 metros que agrupa uma área de 218 400 metros quadrados. Há ainda um canal, criado também com propósitos defensivos. A área parece uma ilha, conhecida como Rattana Kosin.

No conjunto monumental, um lugar de excessos que impressiona pela sua grandiosidade, beleza, riqueza de detalhes, pelas esculturas, pinturas e telhados com decorações elaboradas que surpreendem e prendem o nosso olhar, o templo Wat Phra Kaew, que contém a Buda de Esmeralda, ocupa o lugar central, o mais importante. É o templo mais sagrado da Tailândia.

O Wat Phra Kaew (que significa “Capela Real”) é o único na Tailândia no qual não residem monges. É maravilhoso, todo dourado e revestido por pequenos mosaicos de pedras coloridas.

O Buda Esmeralda é uma pequena imagem, de 66 centímetros de altura apenas, considerado o protetor do Reino da Tailândia. Representa Buda meditando sentado em pose de ioga e é feita em jade (e não de esmeralda) com roupas folheadas em ouro. É o emblema religioso e símbolo da Dinastia Chacri, a atual casa real tailandesa. Não se podem tirar fotos no interior do templo.

Foto retirada da Internet

Atravessei Bangkok e fui outra vez ao Grande palácio porque a minha mulher ainda não o conhecia. À entrada, havia uma seta para a esquerda que dizia “tailandeses e guia” e uma seta para a direita que dizia “estrangeiros”. No interior dos Muros do palácio, desenhando um caminho irrregular entre corpos, seguindo costas, entre milhares de pessoas que queriam ir a algum lado. A minha mulher tinha sapatos fáceis de descalçar. Eu fiquei para trás, a desatar nós. Com um joelho assente no chão, estava rodeado de sapatos, chinelos, sapatilhas. Por momentos, pareceu-me que aqueles sapatos possuíam uma identidade, como se fossem pequenas pessoas. Havia sapatos de sola gasta, curvados por pés andarilhos, como gente com muitas coisas para fazer. Havia sapatos femininos de várias formas, como a fila da casa de banho das senhoras.” O Caminho Imperfeito, José Luís Peixoto.

São várias as construções imponentes, com telhados típicos tailandeses de beirais curvados para cima, muito coloridas e decoradas com folhas de ouro.

Na arquitetura dos vários edifícios combinam-se elementos tradicionais tailandeses com elementos de estilo ocidental. O local impressiona pela beleza, grandiosidade e riqueza. Como alguém diria com humor, o Palácio Real de Banguecoque é um local de excessos, um escândalo de luxo, beleza e imponência.

Atualmente, o Grande Palácio Real é utilizado para coroações, funerais, casamentos reais, banquetes de Estado e cerimónias oficiais.

Há no complexo uma réplica do templo de Angkor Wat, o mais famoso conjunto de templos e palácios do Camboja.

Estátuas representando figuras mitológicas decoram parte do Grande Palácio Real.

A espiritualidade e a energia do local são fascinantes. A devoção dos fieis é contagiante, e é impossível ficar alheio ao Budismo ali.

Nos jardins do Grande Palácio Real alguns dos edifícios são escritórios do Governo, o gabinete do secretário particular do rei e o Instituto Real da Tailândia.

O jardim é enorme e muito bonito, toda a área é muito bem cuidada.

A entrada para o Palácio Real custa 500 baths por pessoa.

Pode saber mais aqui:

https://www.royalgrandpalace.th/en/home

5 pensamentos sobre “O Grande Palácio Real de Banguecoque – crónicas de uma viagem, Parte II

    1. Bem verdade Dulce, se os vendilhões do templo estão em todos os lugares, as pessoas e genuínas pessoas também. E são essas que deixam as melhores marcas. Obrigada por apreciar! Bom resto de semana!

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