Campo Benfeito

Na Nacional 2, em Bigorne, a sinalética que anuncia a aldeia turística do Codeçal é tentadora, convidativa. Mal parecia não aceitarmos o convite. Seguimos curiosos e atentos na direção da aldeia, virando à esquerda no sentido norte, em direção a Lamego. A urze já pintava a paisagem há muito mas ali, na N222-2, um verdadeiro mar de amarelo ofuscava-nos o olhar.

Mal sabíamos que íamos dar com Campo Benfeito, uma das lindas aldeias da Serra de Montemuro. O destino final era, mais uma vez, o Douro, essa incrível região património do mundo inteiro mas muito nossa, antes de mais. Um dos grandes orgulhos nacionais. O percurso, a partir de S. Pedro do Sul, passando por Castro Daire, o Santuário de Nossa Senhora da Ouvida e várias aldeias pitorescas, estava soberbo. A primavera no seu auge, os campos intensamente floridos, um sol maravilhoso e temperaturas muito agradáveis.

Percorremos o Codeçal em menos de cinco minutos, não achando a aldeia particularmente interessante, mas decidimos não voltar logo à Nacional. O tempo não era farto para cumprir os planos traçados para o resto do dia mas estava inteiramente ao nosso dispor. Nada melhor do que trocar-lhe as voltas. 😉 Uma placa indicava Campo Benfeito. Seguimo-la.

Passámos a ermida de Nossa Senhora do Fojo e seguimos a estrada, sem a mais pálida ideia de que um pouco abaixo, na descida, depois do Cruzeiro, em plena Serra de Montemuro rodeada de montes e flores, estava nem mais que o lar do Festival Altitudes e do Teatro Regional da Serra de Montemuro.

As nossas viagens, especialmente as que fazemos cá dentro, contam sempre com alguma planificação, claro, é importante para decidir alojamentos e traçar percursos, mas não seriam viagens à medida se não deixássemos espaço para o improviso, para a surpresa, para nos deixarmos deslumbrar por locais desconhecidos que a simples intuição, ou alguma sinalética, nos revele. O quanto eu gosto disso!

Percorrer a estrada devagar, tão devagar quanto a prudência e o código da estrada aconselham (com algumas irritações nos automobilistas mais apressados), ceder à tentação de parar aqui e ali, seguir caminhos tão estreitos que mal passa um carro, ver o asfalto subitamente invadido de rebanhos de cabras ou ovelhas, que só não têm má sorte porque seguimos a baixa velocidade, 🙂 descobrir aldeias recônditas e paisagens incríveis, é um enorme privilégio.

Já tinha ouvido falar do Festival Altitudes e do Teatro da Serra de Montemuro sem contudo conhecer detalhes, a sua localização exata e muito menos quão bonita é a sua casa, a aldeia de Campo Benfeito.


Situada a pouco mais de mil metros de altitude, a aldeia serrana de Campo Benfeito, na freguesia de Gosende, Castro Daire, possui um enquadramento natural único que se une à cultura, através do teatro, das peças de vestuário em tecidos tradicionais (como o burel, o linho, a lã, o algodão) confecionados com ousadia e modernidade pelas mulheres da cooperativa Capuchinhas, e de outras tradições que marcaram a vida da aldeia. Recebem-nos casas típicas, construídas em granito regional, a ruralidade típica de uma aldeia ligada à agricultura, e flores. Muitas flores.

Mal entrámos na aldeia, na fonte, junto à igreja, pára uma carrinha grande de caixa aberta. Desce um jovem com fato de apicultor. Bebe água da fonte e mete conversa. Pergunta se somos da região, dizemos que não, que andamos a passear. Andava na labuta, a mudar colmeias. Diz ser um dos maiores apicultores de Portugal e até da Europa.

Ficamos mais tempo do que dispúnhamos à conversa o que nos valeu um mau e caro almoço em Lamego, já por falta de outras opções. Não lamentámos nada, o jovem era encantador, falou connosco da sua vida pessoal e da vida atual, da desertificação, de como as pessoas vivem mal nas cidades com tantas possibilidades que o campo dá, onde nem casas vazias faltam, de como todos passam o tempo agarrados aos telemóveis. Falou connosco como se fôssemos conhecidos de sempre. A riqueza de viajar está em beber água de muitas fontes, é o todo que a torna tão valiosa.

Percorremos as ruas desertas, passámos pelo teatro e pela igreja, que não visitámos porque estava fechada.

A aldeia sofreu obras de requalificação, tem algumas casas em ruínas mas parece estar, toda ela, em pleno processo de recuperação.

Depois de termos conhecido completamente ao acaso Campo Benfeito encontrei este artigo do blogue Rostos da Aldeia. Descreve de forma magnífica as suas gentes e tradições, a natureza e tranquilidade, o espírito da aldeia. Há também alguns programas bem interessantes em arquivo na RTPPlay sobre o teatro, o Festival Altitudes e o burel. Se somos pequenos enquanto país, enquanto povo somos enormes. O nosso potencial cultural é de uma riqueza imensurável!

2 pensamentos sobre “Campo Benfeito

  1. Foi sem dúvida um curioso desvio. Por aqui também gostamos desse espirito de explorar, que muitas vezes leva a locais bem agradáveis.
    Só temos pena de não ter um todo-o-terreno, pequeno, que nos permitisse mais explorações. E principalmente mais tempo e dinheiro para andar mais por aí, Mas andamos por aqui, o que já é muito bom!
    Muito simpático esse Campo Benfeito! Bonitas imagens!💛

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    1. É verdade Dulce, nestes momentos penso sempre o mesmo, que a felicidade está quase sempre nas pequenas coisas e nos pequenos lugares, que importa muito sentir a sua presença e saber apreciá-la, vivê-la.

      Alinho nessa do todo o terreno, dava mesmo muito jeito, gosto tanto de andar no campo!! Ainda que aqui, no Alentejo o campo esteja cada vez menos acessível por vedações e cancelas.

      Tempo e dinheiro são imprescindíveis para quem gosta de andar por aí, sem dúvida. Temos de ir gerindo bem um e outro, andar por aí quando ambos permitem e quando não, apreciar o que temos por perto que como bem diz a Dulce também é muito bom. E que não falte saúde para os nosso passeios e explorações, com ou sem todo o terreno! 😉😊

      Obrigada por comentar e apreciar Dulce, resto de bom fim de semana!💛

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