Uma pequena vida

Candidato ao prémio Pulitzer De Literatura de 2016, Uma Pequena Vida (no original A Little Life), de Hanya Yanagihara, é um romance intenso, comovente e profundamente perturbador.

«Este romance pode deixar-nos perturbados, consumir-nos, tomar conta da nossa vida – e há, no meio da brutalidade, beleza.»
The New Yorker

Esta crítica tão curta mas tão precisa, do New Yorker, consegue dizer quase tudo sobre este livro, que aqui trago, mas que não me atrevo a aconselhar, apesar de ser magnífico. Apenas posso dizer que é uma obra deveras marcante.

Não é uma leitura fácil, é sobre a dor, o sofrimento, o desconforto, a capacidade e a incapacidade de resistir e ao mesmo tempo um livro sobre os mais belos sentimentos, o amor e a amizade.

É um livro pesado, de emoções fortes que nos prendem de uma forma excessiva e arrebatadora. Há momentos tão intensos que precisei várias vezes de o fechar e deixar passar algum tempo para o retomar depois. Avidamente. Aconteceu-me entrar no livro, e no sofrimento que relata, de tal forma que me sentia dominada pela angústia, pela tristeza e tinha alguma dificuldade em libertar-me. Obrigava-me a parar.

De forma sintética, a história do livro é sobre a vida de quatro amigos, que se conhecem na Universidade, Willem, JB, Malcolm e Jude, e a sua relação de amizade, os laços afetivos que os acompanham ao longo da sua vida adulta. Foca-se porém num deles, Jude, abusado sexualmente na infância por membros da igreja, e nas consequências que isso teve na sua vida, nos seus sentimentos, nas suas lutas e desesperos.

Curiosamente, estava a terminar de o ler (é bastante grande mas li-o em meia dúzia de dias) quando foi tornado público o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja católica Portuguesa. Um abanão forte, mais perturbador ainda por estar tão embrenhada no livro.

Lamentavelmente, não é apenas um livro pesado, é real. Os dados do relatório revelam números mas as vítimas não são números, são pessoas reais, de carne e osso, não foram inventadas nem existem apenas nas páginas dos livros, a mente humana é de facto muito perversa e consegue que a realidade supere largamente a ficção, vá além da mais desbragada fantasia.

3 pensamentos sobre “Uma pequena vida

  1. Mais uma vez é no seio da religião que se revela um enorme desequilibrio. A juntar a outros já conhecidos…
    O mundo já está tão feio e doloroso, que ler um livro pesado como descreve exige coragem. Neste momento, em que tenho um neto quase a nascer para este mundo….não conseguiria. Preciso de Luz.
    Já basta o que basta. Mas admiro quem o consegue fazer.

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    1. Dulce vi alguns comentários a este livro numa página bem interessante do FB (Mostra o que estás a ler), onde se comentam muitos livros, e já se referia que é maravilhoso e muito pesado. Não imaginava quanto, peguei-lhe lhe um pouco por intuição, à semelhança do que faço com muitos outros, não sabia do que tratava, nem li a sinopse. É perturbador e belíssimo, poderoso e frágil…mas tem toda a razão, o momento é de luz e alegria, nada o deve perturbar. Desejo uma hora bem pequena para a mamã, que tudo corra pelo melhor, e que o netinho chegue com muita saúde e toda a felicidade!🤗

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  2. Pingback: Dia Mundial do Livro – Malvas na varanda

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